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Você sabia que a Itália não tem um piloto campeão do mundo na F1 há 66 anos?

Você sabia que a Itália não tem um piloto campeão do mundo na F1 há 66 anos?

Preste atenção a estas marcas de automóveis: Ferrari, Alfa Romeo, Lancia e Maserati, dentre outras. O que têm em comum? São todas italianas, sinônimo de carros esporte de elevada performance e sonho de consumo de muitos fãs do automobilismo. Mais: todas campeãs do mundo com suas equipes de F1.

Siga atento, agora a estes nomes de pilotos: Giuseppe Farina e Alberto Ascari. Poderia citar outros 106 pilotos italianos que disputaram a F1, mesmo que apenas um ou outro GP. Falaremos bastante de Ascari mais para a frente. É um personagem e tanto.

Mas qual a razão de mencionar apenas Farina e Ascari. Simples: foram os únicos pilotos italianos campeões do mundo. Farina no primeiro ano da história da F1, 1950, com Alfa Romeo, e Ascari em 1952 e 1953, os dois títulos com Ferrari.

Veja que a Itália, com toda a tradição em projetar e construir máquinas potentes, a Itália da paixão pela velocidade, dos fanáticos tifosi, do circuito mais rápido da F1, Monza, não tem um campeão do mundo há simplesmente 66 anos. O último discriminei há pouco, Ascari, em 1953.

Alberto Ascari e a Ferrari com que conquistou o título mundial de F1 de 1952

As competições de automóvel têm disso. A Itália ainda aguarda uma geração pródiga de pilotos a fim de celebrar nova conquista do campeonato, coisa que pelo menos quatro gerações desconhecem. Mas uma das suas marcas segue, desde aquela época, sendo protagonista na F1. A Ferrari, claro.

O futuro dos pilotos italianos na F1

Os italianos estão à caça de um piloto que os faça torcer não apenas pela Ferrari, mas por ele também. Na atual temporada há um italiano no grid, Antonio Giovinazzi, na Alfa Romeo, uma imposição do ex-presidente da Ferrari, Sérgio Marchionne, a quem a Sauber, hoje Alfa Romeo, se associou.

Pois da dispensa de Jarno Trulli, pela Lotus, em 2011, até o ano passado, sete anos, a Itália não teve piloto regular na F1, com tudo que o país representa para a competição.

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Ascari, ídolo da nação

Falei que valia a pena trocarmos uma ideia sobre o último piloto italiano campeão do mundo, Ascari. Imagine que dos quatro primeiros campeonatos de F1, de 1950 a 1953, o país conquistou três títulos e foi segundo com Ascari, em 1952, quando o argentino, filho de italiano, Juan Manuel Fangio, competindo pela Alfa Romeo, foi campeão.

Como mencionado, Farina ficou em primeiro em 1950 com Alfa Romeo e Ascari foi bi, 1952 e 1953, com Ferrari. Só dava Itália na F1.

Por onde passasse, mesmo sem a explosão de hoje da mídia, Ascari era tratado como uma celebridade, apesar de no seu íntimo levar um vida tranquila na cidade que amava, Milão, onde nasceu em 1918. O mito Ferrari pulsava menos, estava em construção. O piloto ainda era muito valorizado pelos italianos. Atualmente, a marca Ferrari se sobrepõe ao piloto, mesmo se for italiano.

Giuseppe Farina, o primeiro campeão do mundo da F1, em 1950, com Alfa Romeo.

Filho de outro grande

Ascari levava público às corridas de rua, bastante comuns principalmente antes de 1950, quando a F1 foi organizada. Ele era filho de um astro dos anos 20, Antonio Ascari, piloto da Alfa Romeo. Com apenas sete anos, Alberto foi informado da morte do pai na corrida de Montelhéry, ao sul de Paris, ao lado de Viry-Chatillon, onde hoje se encontra a matriz francesa da equipe Renault de F1.

Antonio liderava a prova quando perdeu o controle do modelo P2 em uma curva rápida, à esquerda, e capotou. Os carros não tinham santantônio, o arco de proteção no caso de capotagem. O peso do veículo permaneceu sobre o piloto, matando-o. Essa explicação será útil mais para a frente.

O pai de Alberto Ascari era amigo de Enzo Ferrari, correram juntos naqueles anos 20. Apesar da perda de alguém tão próximo, Alberto começou a competir com 19 anos, não com carros, mas de motocicleta. Em 1940, Ascari aceitou o convite de Ferrari para correr com seus carros, no caso o modelo Typo 815 Spyder, na tradicional Mil Milhas, na Itália.

A II Guerra Mundial interrompeu as competições. Ascari já cuidava do pródigo negócio de logística e concessionária Lancia da família, quando outro piloto italiano, Luigi Villoresi, convenceu Ascari a voltar para as pistas. Ascari era um piloto jovem, ainda, para a época, 32 anos, e amado pelo público, o Ciccio, gordinho querido.

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Ascari venceu o GP da Grã-Bretanha de 1953, ano do bicampeonato, com Ferrari, último de um piloto italiano na F1.

Chamado por Enzo Ferrari para F1

Assim, Ascari tornou-se piloto de Enzo Ferrari na F1 de 1950 a 1953. Depois correu para a Maserati, 1954, voltou para a Ferrari apenas no GP da Itália de 1954, para em seguida tornar-se piloto da Lancia, em 1955. Eles vão me pagar bem mais do que Enzo Ferrari, explicou.

O último campeão do mundo italiano era profundamente supersticioso. Via gatos pretos como uma praga. Não podia sequer pensar em números de azar. Todos eram bem avisados para jamais tocar na mala que levava seus equipamentos de piloto para os autódromos, os lendários capacete e camiseta azuis, óculos e luvas.

Ascari era considerado um piloto rápido, técnico, constante, de bem poucos acidentes na carreira. Foi por isso que todos no Circuito de Mônaco, em 1955, se impressionaram com o que aconteceu: na 80ª volta de um total de 100, Ascari liderava com o modelo D50 da Lancia.

Mergulho no mar

Na saída do túnel, perdeu o controle do carro. Incrivelmente não havia guardrail, apenas fardos de feno separando o piloto do Mar Mediterrâneo. Resultado: Ascari foi parar na água. Quando todos esperavam pelo pior, o piloto apareceu na superfície. No hospital, constataram somente um leve fratura nasal.

Era o dia 22 de maio de 1955. Ascari competia com o número 26 usado preferencialmente também pelo pai.

Apenas quatro dias depois, 26, Ascari recebeu um telefonema, em casa, em Milão, não distante do Circuito de Monza. Era Villoresi, dizendo que outro piloto italiano próximo deles, Eugenio Castelotti, iria testar no veloz circuito o modelo 750 da Ferrari, da categoria carros esporte, rodas cobertas, não F1. Correria com ele na prova Supercortemaggiore, na fronteira com a Áustria. Pois Ascari, mesmo sendo piloto da Lancia, apareceu no autódromo.

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Posso dar umas voltas?

Mais que isso, pediu para Castelotti dar umas voltas no carro. Naquela época a relação entre as equipes, notadamente duas italianas, Ferrari e Lancia, permitia esse tipo de coisa.

A sessão de testes da manhã terminou. Iam todos almoçar. Foi quando Ascari saiu para o que definiu como três voltas a fim de não ficar enferrujado. Não tinha a indumentária proibida de ser tocada. Pilotava uma camiseta não azul e o capacete lhe fora emprestado por Castelotti.

Coincidência ou não, o piloto não apareceu no fim da terceira volta. Na curva que hoje leva seu nome, embora na época bem mais rápida, a Ferrari 750 sai de lado, capotou e, a exemplo do que gerou a lesão fatal no pai, o peso do veículo sobre seu corpo o matou. De novo: não havia aquele arco, o santantônio para proteger o piloto no caso de capotamento.

Antonio Giovinazzi, da Alfa Romeo: depois de sete anos, a Itália voltou a ter um piloto na temporada toda de F1.

Juntos até o fim

Veja que curiosidades tristes, em especial para quem era impressionantemente supersticioso: era 26 de maio de 1955, dia 26, o número que ele e seu pai gostavam de usar nos carros. O acidente fatal de Antonio, o pai, aconteceu no dia 26 de julho de 1925, ou seja, 30 anos antes.

Mais: Os dois acidentes aconteceram na saída de curvas de alta velocidade para a esquerda, e os dois pilotos tinham sofrido, quatro dias antes, outro severo acidente, em que milagrosamente quase não se feriram.

Não acabou: pai e filho tinham 36 anos de idade quando perderam a vida e ambos deixaram esposa e dois filhos.

Antonio e Alberto celebraram nas suas breves carreiras o mesmo número de vitórias, 13. O feito de Alberto na F1 foi tão notável que até hoje o número de vitórias seguidas é seu, 9, entre as temporadas de 1952 e 1953, ambas conquistadas por ele. Apenas em 2013 Sebastian Vettel, da Red Bull-Renault, o igualou.

Domingo, no Autódromo de Silverstone, Inglaterra, a F1 disputa a 10ª etapa do campeonato, corrida de número 1.007 da história do evento. Apesar do seu esforço, Giovinazzi, na Alfa Romeo, não demonstrou até agora poder crescer na competição a ponto de se tornar um protagonista, como tanto os italianos gostariam de ver. É algo inédito para quem tem menos de 80 anos.

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